Nos livramos da paranoica máquina déspota de Chaplin em Tempos Modernos, mas continuamos oprimidos e pequenos. O que nos oprime, contudo, não é mais a imensa engrenagem, mas o ínfimo bit. Ao contrário dos tempos em que a ignorância regia o planeta, não é mais a escassez de informações que nos estorva, mas o excesso delas. Como um exército de formigas, os bits nos cobrem, nos subjugam. As engrenagens, essas, coitadas, passaram a ser controladas por eles também.
A promessa da desobrigação humana proporcionada pela tecnologia só nos torna cada vez mais ocupados. A imensidão de escolhas da pós-modernidade nos leva de volta ao prosaico. Desejamos consumir o vazio. Procuramos o sossego do espaço em branco, sem encontrá-lo, porém, em meio ao tudo que existe.
A ansiedade gerada pela notícia não sabida nos faz obstinados e vorazes leitores de emails, posts e tweets. Um segundo que se perde parece ter o poder de mudar a história de toda a humanidade. Enquanto isso, Ele, o tempo, passa, apático à nossa angústia. Vivemos cada vez mais rápido. Quanto mais velozes, mais efêmeros. Desperdiçamos a essência da contemplação. Triunfamos na abrangência, mas nos perdemos do detalhe. Cassiano Ricardo, poeta joseense, já nos dizia no início do século XX que:
“Diante de coisa tão doida
Conservemo-nos serenos
Conservemo-nos serenos
Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos
Nunca é mais, é sempre menos
Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser
Do não ser, e não do ser
Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer.”
Já se começa a morrer.”
A eterna peleja do tempo. Temos estado tão atribulados. Atarantados com o cotidiano, confundimos o fim com o meio, o palco com a plateia. Será que nossa missão como seres humanos é simplesmente acumularmos riquezas o mais cedo que conseguirmos, vivermos das suas benesses e adiarmos a morte o quanto pudermos? Será que é só isso?
Há de haver uma saturação em que procuraremos o sentido de tudo isso. Corremos tanto que não sabemos mais para onde e nem porque. Se espreitarmos a vida em torno, como um ser nos observando de fora de nós mesmos, perceberemos um movimento, ainda que sutil, da busca de si próprio. A procura pela autenticidade das coisas.
Diante dessa pintura caótica e complexa do mundo em que vivemos, gostaria de lhe dar uma dica dessa nossa longa viagem, e a que considero a mais importante: tome cuidado para não perder o fator humano. A tecnologia não substitui o motivo pelo qual estamos todos aqui – construir um mundo melhor visando o bem comum e sermos felizes sem causar a infelicidade alheia. A tecnologia é uma ótima ferramenta para aproximar o ser humano de si mesmo. Foi feita para servir o homem, não o contrário. Se isso lhe soa como “use filtro solar”, você está certo. É necessária uma volta ao prosaico, uma volta a essência do próprio ser.
A sua prosperidade será medida pela quantidade de pessoas que você ajudou a prosperar também. A sua felicidade, pela quantidade de felicidade que gerou nas pessoas que tomaram contato com você. Madre Teresa citou uma frase certa vez que deveríamos trazer conosco como uma lição de vida: “Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”.
É a nossa capacidade de nos solidarizarmos com nossos semelhantes e lutar pela humanidade de cada um deles – lembre-se do conceito de Ubuntu – que nos fará uma espécie vitoriosa. Será essa solidariedade que nos livrará do trágico final com o qual flertamos a cada homicídio ou desejo de vingança – a auto-destruição, como algumas vezes na história do mundo nos aproximamos tão perigosamente vendendo barato o nosso maior dom, a vida. A tecnologia, a internet, o marketing digital são só meios para construirmos uma história que desejaremos contar aos nossos netos. A tecnologia não é um fim em si mesma. Apenas um meio.
A internet é um meio para construirmos um legado e para que partamos deixando um mundo melhor do que o que encontramos quando chegamos. Um meio para promovermos uma vida digna para quem, por exemplo, a maior preocupação hoje não é se a campanha vai viralizar ou não, mas se irá conseguir comer no dia seguinte.
Há cerca de 1 bilhão de pessoas que passam fome no mundo. 1% da população detém 43% da riqueza mundial e 43% da população reparte 2% da riqueza. Cerca de 50% da população mundial vive com US$ 2,50 por dia. Esse não é o mundo que queremos deixar para nossos filhos. As estatísticas nos mostram que devemos fazer algo para mudar esse quadro e rápido. O abismo social está se tornando insustentável e o resultado nós já sentimos a cada calafrio que nos invade quando algum desconhecido se aproxima para perguntar as horas.
A mudança de consciência do ser humano com relação ao que está fazendo consigo mesmo já vem acontecendo há alguns anos, porém, faltava um elemento de ligação. Que fizesse com que as tímidas e estanques iniciativas formassem um único corpo para transformar a realidade. Acredito na internet como esse elementos de coesão. Uma ferramenta de democratização do conhecimento gerador de riqueza, de distribuição mais igualitária de renda em nível global e de formação de indivíduos que compreendam e aceitem a diferença. Posso ser considerado um otimista, mas quando observo as belíssimas ações sociais que pequenos grupos de pessoas têm realizado ao redor do mundo para transformar sua sociedade, vejo que tenho motivos para acreditar na solidariedade, na consideração do ser humano com os seus semelhantes – do latim “con”= junto e “sidera”= estrelas, por alguém junto às estrelas.
Em uma passagem do filme “O Dia em que a Terra Parou”, Keanu Reevers (na versão mais moderna), interpretando o extra-terrestre Klaatu com poderes de exterminar toda a raça humana, tem uma discussão filosófica com um prêmio Nobel, Professor Barnhardt (interpretado por John Cleese). O motivo da eminente exterminação da nossa espécie seria o que estaríamos (e estamos) fazendo com o planeta Terra, um dos poucos planetas no universo capaz de abrigar formas complexas de vida: destruindo-o. O professor argumenta que a humanidade, diante de uma situação limite, acharia seu caminho, assim como a própria espécie de Klaatu encontrou o seu. Algo como Jeff Goldblum dizendo “Nature finds its way” (a natureza encontra seu próprio caminho) em Parque dos Dinossauros. Estamos nessa situação limite. A crença de que a humanidade encontrará seu próprio caminho antes de ultrapassarmos o limite a partir do qual não haverá mais volta, divide o mundo entre otimistas, pessimistas e os que não pensaram sobre o assunto (que representa a maioria, infelizmente).
Nossa espécie não chegou até aqui por um mero acaso. Somos fruto de uma evolução contínua que nos trouxe das cavernas aos arranha-céus. Da pedra lascada ao iPad. As mazelas humanas das quais somos todos vítimas, ricos ou pobres, são frutos da vontade e da vaidade de uma porcentagem ínfima da população. A porcentagem que ainda detém o poder representado unicamente pela quantidade de zeros em sua conta bancária. Um Egito, uma Líbia, um ReclameAqui ou uma crise global de 2008 levando poderosos a bancarrota e fazendo países até então considerados pobres a ganharem o estatus de “emergentes” nos mostra que o eixo de poder está mudando de sentido.
Em um mundo em que o local virtual faz com que as pessoas se unam para lutarem pelos seus direitos independente do local onde habitam, bastando para isso ter uma conexão com o mundo e um hardware, faz com que a vontade de muitos seja mais forte do que o poder de poucos. Um novo mundo de possibilidades se abre a partir de então. Uma saída para o beco em que a humanidade se encontrava até o século passado em uma economia baseada na indústria e na manufatura. O poder será cada vez mais medido pela conexão e pelo compartilhamento, não mais unicamente pelo dinheiro. Será medido pelo capital social, não tanto pelo capital monetário. Talvez o melhor exemplo disso atualmente seja o Facebook.
É lógico que existe uma grande chance da história ainda nos reservar algumas surpresas com relação a isso. Com o aumento de poder advindo das massas conectadas, governos brigarão, não mais por terras ou petróleo, mas pelo controle da conexão. A semente disso já está acontecendo com sob o tema “imparcialidade da rede”. Será um mundo em que possivelmente hackers serão revolucionários construindo redes de conexão clandestinas e paralelas para manter a comunicação livre. MadMax parecerá um filme infantil diante de um mundo, como diria Thomas Friedman, quente, plano e lotado, e ainda com batalhas centradas em domínio de alta tecnologia de infra-estrutura de conexão global. A humanidade encontrará seu jeito? Acredito que sim.
A internet chega ao nosso cotidiano como um fator de coesão e potencialização humana. Uma enorme rede neural que transforma o próprio planeta Terra em um grande cérebro. Um cérebro é formado por neurônios e sinapses, dentre outros elementos. Atualmente o planeta, nossa plataforma cerebral global, é formada por cérebros e conexões. Um cérebro de cérebros. Não há como imaginar onde essa massa cefálica multicultural poderá nos levar dado que não sabemos ao certo nem a capacidade total de nosso próprio cérebro.
Assim como o organismo da menina do início de Guerra dos Mundos intuitivamente sabia que seu organismo solucionaria sozinho o problema do corte, acredito que esse grande organismo formado pelo nosso planeta Terra, seres humanos e a internet, que chamo carinhosamente de sistema geohumanointerativo, resolverá as suas próprias mazelas (recomendo ler a teoria de gaia, que considera o próprio planeta como um sistema complexo vivo).
Mudar o mundo não é algo fácil. Muitos dos que leem esse artigo tentam mudar a cabeça de seus chefes, de suas famílias ou simplesmente de seus amigos tentando mostrar que a internet é algo muito maior do que se percebe. É uma força criada pela natureza humana que modificou profundamente o criador. Que lhe fez enxergar mais longe e a criar uma nova dimensão existencial que interfere e modifica a dimensão física cotidiana. Da mesma maneira que você leitor, tenta mudar a cabeça dos seus pares quanto a eficiência da internet para mudar uma empresa, eu tento, através desses parágrafos finais, convencê-lo da internet como uma ferramenta de mudança global.
Mudar o mundo exige esforço, dedicação e principalmente persistência – “as pessoas não falham, elas desistem”, é a minha filosofia de vida. Não desista dos seus sonhos e conseguirá o que quiser, até mesmo mudar a sua própria realidade e das pessoas que o cercam por meio da rede. Finalmente, nós, indivíduos até então isolados pelo espaço, temos a oportunidade de nos juntarmos para discutir a mudança nesse espaço virtual e aumentarmos as chances de sucesso na nossa empreitada de construir um mundo melhor.
Concluído isso, terminarei meu breve devaneio, com uma frase que deve fazer você pensar:
Estou disposto a mudar o mundo. E você?
Fonte: Marketing Digital, por Conrado Adolpho, em http://goo.gl/po5Rn (texto integral).
Nenhum comentário:
Postar um comentário